Estrelas ao Contrário

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Passei mal em plena rua. Ninguém me ajudou. Minha visão estava turva, eu cambaleava, pedindo ajuda, mas nada. Todos tão ocupados e eu sozinho na calçada perdendo consciência. Primeiro perdi a razão. Não podia me queixar, afinal, quem é que sabe de alguma coisa? Dava na mesma, mas... Ainda pensando assim eu perdi o equilíbrio e exagerei uma translação ao redor de mim mesmo, eu me orbitava e tropecei numa placa. Caí, tentando segurar alguma imagem do que sobrava de quem eu era, todas derramaram... A sociedade foi-me chovendo decadências, "estrelas ao contrário", alguém me sussurrava e eu não entendi. Perdi a identidade, perdi a noção. Não havia a quem recorrer, eu já não era ninguém. Anoiteci na rua, quase congelei. O tempo passou sem que eu notasse e, quando emagreci, quando eu não tinha nada, quando eu morri... Tiraram uma foto minha. O vivo enoja, enjoa, dá asco! O morto é coisa, é fácil. Coisa pode virar arte. Gente só pode ser arte se for gente ou coisa. Mas vivo eu era indigesto, eu era indigente.

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